A reunião do comitê de saúde do governo estadual na tarde desta quinta-feira vai definir se haverá retorno aulas presenciais no estado em 8 de setembro, mas na cidade de São Paulo a diretriz é adiar a volta o máximo possível. Existe o temor das autoridades municipais de saúde de que os estudantes se infectem nas escolas, ou no caminho até elas, e transmitam o coronavírus aos avós.
A possibilidade de a Prefeitura de São Paulo não retomar as aulas mesmo com autorização do Centro de Contingência é manifestada pelo secretário municipal de Educação, Bruno Caetano. "Entre a data fixada pelo estado e a efetiva autorização do funcionamento, leva alguns dias. Não é uma abertura imediata. Sempre o município faz a sua análise própria a partir dos protocolos. Então é possível, sim, que mesmo com a abertura do estado a prefeitura não autorize de imediato", diz.
A medida valeria apenas para as escolas públicas municipais da capital. Ontem, a Câmara aprovou a lei que regulamenta a volta às aulas nessas unidades. O texto, porém, não especifica uma data para o retorno e estabelece algumas normas para gerenciar a retomada.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), foi aconselhado a ter cautela. Em entrevista a Globonews ontem à noite, ele disse que as aulas só voltarão na capital com a aprovação da vigilância sanitária, e não por "pressões" externas.
Segundo o UOL apurou, para justificar o receio, as autoridades de saúde citam os resultados das três etapas do inquérito sorológico. As duas primeiras etapas indicavam mais casos entre adultos. Mas a terceira etapa apontou mais casos em pessoas com idade acima dos 65 anos. O movimento foi interpretado como consequência de os adultos saírem às ruas para trabalhar e levarem a Covid-19 para suas famílias. Os idosos são considerados grupos de risco mais suscetíveis a complicações em consequência da doença.
A preocupação é que esta situação se intensifique com a volta às aulas. Números da prefeitura indicam que somente na rede municipal a soma de pessoas envolvidas com o setor de educação —alunos, professores, funcionários e pais— chegue a 2 milhões. Como o protocolo do estado prevê o retorno de 35% dos estudantes, isto representa cerca de 700 mil pessoas deixando o isolamento social para, potencialmente, transportar o coronavírus para suas casas.
Caetano diz que a realização do inquérito sorológico representa um "cuidado adicional" e afirma que, nesse momento, a prefeitura da capital trabalha "no recolhimento de mais evidências científicas para que a decisão seja tomada com ainda mais segurança e critério objetivo".
"A gente sabe que escola fechada foi importante para manter a pandemia sob controle, do ponto de vista da pressão do sistema público de saúde. Se a escola, e muitos especialistas apontam, talvez tenha sido o fator determinante para que não tenha faltado um leito na cidade para quem precisou, abrir a escola tem que ser feito com cuidado", diz.
Segundo ele, a secretaria municipal de Educação compartilhou sua base de dados dos alunos matriculados na rede com a Saúde para que fosse possível a realização desse inquérito. Mas, de acordo com o secretário, nenhum tipo de levantamento sobre crianças que coabitam com pessoas maiores de 60 anos foi solicitado pela pasta.
Testes para medir porcentagem de estudantes infectados
Um ponto ressaltado é que os estudantes estão em uma faixa etária majoritariamente assintomática. Para descobrir o percentual de alunos que já tiveram covid-19 a prefeitura começou ontem a testar este grupo.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou que o objetivo da quarta etapa do inquérito sorológico "é estimar a prevalência da infecção por coronavírus em estudantes de 04 a 14 anos de idade, da rede municipal de Ensino de São Paulo, além de calcular a proporção de crianças e adolescentes com teste positivo, que apresentam ou apresentaram infecções assintomáticas.".
O texto continua dizendo que as informações servirão de base para avaliar qual o melhor momento para retomada presencial das aulas. A quarta etapa do inquérito sorológico começa examinando de 6.000 alunos da rede municipal de ensino: 2.000 da pré-escola; 2.000 do ensino fundamental 1 (1º ao 5º ano); e 2.000 fundamental 2 (6º ao 9º ano).
A quarta etapa terá quatro fases e a previsão é testar 24 mil estudantes. A avaliação das autoridades de saúde é que somente com estas respostas será possível uma retomada segura das aulas presenciais. Um dos dados aguardados é saber a porcentagem de alunos que já tiveram covid-19.
A informação é considera importante porque sabe-se que em ambientes com muitos indivíduos que já tiverem a doença fica mais difícil para o coronavírus transitar de um organismo ao outro. Um índice alto tornaria as aulas presenciais mais seguras.
Cidades do ABC descartam volta neste ano A cidade de São Paulo não é a única a preferir adiar o retorno das aulas presenciais. Quatro dos sete municípios do ABC paulista, região que tem mais de 2 milhões de habitantes, já anunciaram que a reabertura das escolas da rede pública municipal só acontecerá em 2021. É o caso de Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires.
Em São Bernardo do Campo, a prefeitura informou que as aulas presenciais não retornarão em setembro. O prefeito Orlando Morando (PSDB) chegou a admitir um possível retorno em outubro, a depender da condição epidemiológica da cidade.
Prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Junior (PSDB) também descartou o retorno das aulas em setembro. Já a cidade de Diadema deve aguardar os resultados de uma pesquisa feita com a comunidade escolar para tomar uma decisão.
As declarações têm respaldo de pelo menos parte dos professores. O sindicato da categoria reuniu 260 carros na semana para fazer um protesto contra o retorno das aulas presenciais.